Ouvi o termo pela primeira vez em uma reportagem que falava da trajetória de uma menina autista, de seus desafios da infância até ser formar advogada e ser contratada em um grande escritório na Flórida, nos Estados Unidos. O sócio do escritório que a empregou, também pai de uma criança autista, disse que as empresas precisam dar um passo adiante em suas políticas de inclusão. Não basta, disse ele, falar em diversidade de raça e gênero se não existir neurodiversidade. Neurodiversidade! Descobri que o uso da expressão gera polêmicas, mas vou deixá-las para os psicólogos, para me apropriar só do coração da ideia. Pessoas com síndrome de down, autismo e transtorno de déficit de atenção, para mencionar algumas poucas condições, podem ser diferentes, mas não são menores. Acho que é possível expandir essa compreensão para abraçar também a depressão. Apesar de ser comum, a depressão ainda é fortemente estigmatizada, especialmente no ambiente de trabalho. Eu sei muito bem o que é viver fazendo cara de paisagem para não ser taxado de doido, fraco, cansado…
Não é brincadeira: segundo a Organização Mundial de Saúde o número de pessoas com depressão aumentou 20%. No Brasil, atinge quase 6% da população, quase 40% mais do que a média mundial. Além disso, somos recordistas em casos de ansiedade e estresse.
Para mim, as políticas de tolerância e inclusão ainda estão na órbita do blablablá corporativo. Reconheço várias iniciativas convictas, mas a coisa é difícil mesmo. A corporação pode até se empenhar no assunto, mas para pegar, a mudança depende do indivíduo na baia ao lado. É aí que a roda engripa, porque na competição pelo próximo aumento de salário, vamos admitir com grandeza de espírito: vale tudo para mostrar o próprio valor, até assoprar por aí as fraquezas do outro. Na vida real do escritório, das fofocas em torno do bebedouro, a depressão, o estresse, o burnout e a ansiedade são características dos fracos. Há exceções, claro. Falamos disso outra hora.
Muitos deprimidos vivem escondidinhos dentro de seu armário, sofrendo quase sozinhos. A decisão de sair de lá é difícil e arriscada. Talvez, tristemente arriscada, como assumir a homossexualidade. Decisão pessoal. Faço um convite para os que se julgam 100%. Olhe para os lados, talvez exista um deprimido enrustido por perto. Talvez ele esteja fazendo tanto quanto você, ou mais. Já pensou? Fazendo o mesmo que você e ainda carregando a carga extra da depressão? Não é legal?
O fato é que os cérebros não funcionam do mesmo jeito. Salve a neurodiversidade.