A Inteligência Artificial (IA) generativa já é realidade dentro dos escritórios de advocacia, mas em que áreas vem sendo usada? Como? Já existem posições ameaçadas? Quem está na vanguarda? Uma enquete promovida pela Análise Editorial com cerca de 220 escritórios que atuam no direito empresarial trouxe algumas respostas para estas e outras perguntas. Eis os principais insights:
A IA já está presente no dia a dia, mas em atividades paralelas
A pesquisa confirmou meus palpites: a IA ainda não está sendo usada predominantemente em atividades-fim, mas sobretudo para fazer consultas e pesquisas. Mais de 75% dos que responderam disseram usar IA para essa finalidade. A pergunta permitia múltiplas escolhas e outros 71% afirmaram que estão usando IA em atividades paralelas, não necessariamente jurídicas, como a produção de apresentações. A surpresa, para mim, veio com esta: 36% informaram que já usam IA como apoio para a produção de peças processuais. Não é a maioria, mas parece bastante significativo.
Para 70%, IA vai fazer o trabalho dos advogados
Afinal, a Inteligência Artificial vai fazer o trabalho dos advogados, ou não? Em linha com as expectativas, 70% responderam categoricamente que sim, que a IA vai fazer o trabalho dos advogados. Por outro lado, outros 28% ainda não estão tão certos assim; afirmaram concordar apenas parcialmente com a premissa. A pesquisa não detalhou as respostas, então fiquei pensando no que vai na cabeça desse pessoal. Será possível conceber a advocacia sem uma participação definitiva da Inteligência Artificial? Não acredito. Imagino que muitas das pessoas que responderam podem ter entendido “substituir o trabalho” em vez de “fazer o trabalho”, que são coisas diferentes. A propósito, 2% dos entrevistados disseram não concordar que a IA fará o trabalho dos advogados.
Os juniores são os mais ameaçados; sócios estão mais protegidos
Segundo o resultado da pesquisa, a maioria dos advogados, 58%, não vê a IA como uma ameaça em nenhuma etapa da carreira. Porém, para 36%, profissionais no início da vida profissional, como estagiários e advogados juniores, podem, sim, sentir o impacto da IA. Outros 5% acreditam que os advogados plenos podem se prejudicar pelo avanço da IA e apenas 1% afirmou que os sócios e associados podem ser os mais atingidos. Traduzir o resultado de pesquisas é sempre um desafio. De qualquer forma, esse peso nos ombros do pessoal em início de carreira me parece exagerado. Em outras áreas, vimos que os mais jovens se adaptaram mais rapidamente aos avanços tecnológicos e acabaram substituindo profissionais mais, digamos, reativos. Do meu lado, não vejo ameaça em posição alguma. Ameaçados estarão todos os profissionais que teimarem em ignorar que a Inteligência Artificial está aí.
IA sim, mas sem pressa
Outro resultado que me pareceu surpreendente, 40% dos participantes da enquete afirmam não ter pressa para integrar a IA à rotina do escritório e 27% responderam que se sentem atrasados, ou seja, quase 70%, pode-se especular, estariam observando o mercado. Talvez essa seja uma atitude inteligente, pois os custos de testar qualquer nova tecnologia são altos e os resultados incertos. Hoje já é possível ver nascer empresas focadas em desenvolver soluções de IA para o mercado jurídico. Aguardar pelo amadurecimento dessas iniciativas pode ser uma medida de segurança. Por outro lado, mais uma surpresa da pesquisa: um em cada três escritórios que responderam afirma que se sente na vanguarda desse processo.
Publicado originalmente na Análise Editorial